Peyton Manning e como funciona seu ataque

Com o nosso novo QB Peyton Manning no comando do ataque, tem surgido um grande número de comentários a respeito dele. Este post que trago para o Mile High Brasil foi escrito com ajuda do meu amigo Topher Doll, editor do MHR. Vamos então ver como funciona o ataque com Manning no comando quanto às suas formações e playcalling.


Visão Geral e Fundação

Quando assunto é o ataque que o Peyton Manning comandava em Indianápolis, devemos saber que ele gostava de tudo simples. O básico desse ataque é centrado em coisas simples que ele alterava baseado nas situações, tanto no huddle quanto na linha. Sei que muitos vão questionar essa idéia da simplicidade, mas quanto mais estudarmos esse sistema, mais claro isso vai se tornar. Essa simplicidade está no playcalling, nas rotas, nas formações e nos conjuntos de habilidades de todos. O antigo backup QB dos Colts Jim Sorgi disse:

Eu posso até dar o playbook. Não existem muitos times que vão usá-lo que não sabem o que estão fazendo. É tudo uma questão de execução. Os técnicos são do tipo ‘Nós vamos contar ao outro time o que estamos fazendo.’ Isso é o que eles fazem. É disso que o sistema é feito. Mas não são muitos os times que conseguem pará-lo.

Eu posso dar à defesa todas as informações possíveis e eles vão dizer: ‘Nós podemos chegar no Peyton? Nós podemos derrubá-lo? Conseguimos chegar nele antes que ele jogue a bola?’, Você pode saber que rota vai ser feita e ainda assim não conseguir fazer a cobertura.

Quando se trata desse ataque, eles vão fazer a mesma jogada que faziam 10 anos atrás em determinada situação. Eles apenas sabem que tem o melhor QB, os melhores WRs, a melhor OL, e vão executar a jogada melhor do que a defesa.

Outro cara muito inteligente chamava esse ataque de uma máquina que todos sabem o que vai acontecer, mas que isso não importa, pois se um time executá-lo como deve, vai funcionar. Esse cara é o Dan Marino, e também contra ele não havia defesa para os passes perfeitos. Basicamente, flexível e mortal, esta é a fundação do ataque que o Peyton Manning comanda e o torna um dos melhores passadores de todos os tempos.

 

Formações

Desde 2005 o ataque do Colts utilizou somente 4 formações, sendo que 2 delas na maior parte do tempo:

– 4 WR, 1 RB: 8%
– 3 WR, 1 TE, 1 RB: 61%
– 2 WR, 2 TE, 1 RB: 22%
– 2 WR, 1 TE, 2 RB: 9%

Vemos que na maioria das vezes o Peyton Manning usa 3 recebedores, 1 tight end e 1 running back. É com essa simples formação que ele consegue utilizar os jogadores para criar confusão nas defesas. Ele pode mover seu tight end para trás para proteger para passes ou blitz pelo meio. Ou pode mover seu RB para o slot se houver um buraco na defesa. Essas formações básicas permitem uma grande flexibilidade para um QB inteligente fazer o melhor de acordo com o que a defesa está mostrando.

Há os fãs da formação com 4 WRs nos pacotes de Spread Offense, que são construídos para se colocar o máximo de jogadores ofensivos de uma vez para espalhar a defesa e criar duelos que favoreçam o ataque. Nós vimos esse ataque sob o comando do Josh McDaniels em 2010 e algumas vezes na última temporada.

Eu não me importo em saber qual ataque é o melhor, mas o principal motivo que o Colts usava essa formação com 3 WRs é porque conseguiam ter os melhores jogadores no campo sem precisar levar 6+ WRs no roster, já que eles só precisavam de 4 WRs com qualidade. Focando em poucos jogadores de muito talento você é capaz de maximizar seus jogadores usando um QB que tem as habilidades para executar esse sistema perfeitamente.

 

Play Calling: Maximizando uma formação com audibles

As rotas que os WRs, TEs e RBs percorrem também são muito simples, exceto pelo fato de que the inside e a back tem opções que o Peyton Manning pode ajustar. Aqui vai uma imagem que pode nos ajudar a entender:

Essa é uma formação básica que o Peyton Manning usualmente utiliza, com 3 WRs, 1 TE e 1 RB. A chave da jogada é o SS e o que ele vai fazer. Dependendo disso, o Peyton Manning vai fazer um audible pro TE ajustar para o caso de ser uma blitz do SLB e se o SS vai ajudar contra corrida ou voltar para cobertura.

A partir dessas duas variáveis o nosso QB pode fazer o ajuste e chamar a melhor jogada sem mudar a formação. Se o SLB for entrar na blitz e o SS for fazer cobertura, ele vai ter o TE dele fazendo a rota em L para uma recepção segura enquanto o WR deste lado bloqueia o CB. Se o SLB entrar na blitz e o SS ficar para ajudar contra corrida, o TE vai correr a rota mais profunda para explorar a falta de cobertura no downfield já que o FS estará sozinho.

Isso pode ser feito por incontáveis jogadas, mas eu não quero perder muito tempo com isso. Então, para resumir, as formações básicas e rotas sempre tem uma opção para o Peyton Manning ir para a linha e ajustar a rota de algum jogador chave. Vamos olhar mais uma jogada e depois seguir em frente:

Mesma formação, mas dessa vez nós vemos a defesa em nickel (com 1 CB a mais substituindo 1 LB). Dessa forma o Peyton Manning nota 1 de 2 coisas possíveis:

1. O CB em nickel está avançando para a linha e pode entrar em blitz, deixando assim alguém aberto deste lado. Ou o WR no slot, ou o externo já que o S está bem longe em cover.

2. O CB está vindo para a linha mas o Manning percebe que ele só está num alinhamento mais tight de cobertura man-2-man. Com isso, ele pede para o RB fazer a rota combinada já que o MLB vai estar muito longe e provavelmente cobrindo o box em zone. Assim será uma opção aberta segura caso os WRs não consigam nenhuma separação dos CBs.

Claro que essa é uma versão bastante simplificada e que nós ignoramos a capacidade do MLB. E isso para não dizer que o ataque não vai ter audibles que mudam várias rotas, como viámos com o Kyle Orton, mas eu só quis deixar as coisas simples porque a maioria de nós não vai nem ver o que o Peyton Manning está lendo da defesa quando ele passar algum audible na linha.

Eu espero que tenha conseguido transmitir o poder que os audibles tem em formações tão simples. O audible combinado com um ataque no-huddle é muito potente, principalmente quando tem uma execução perfeita e um QB muito inteligente.

 

Passes Longos

Uma das coisas que muitos esquecem é que o Peyton Manning não tem um braço de foguete. Ele pode fazer todos os passes da NFL, mas não tem um braço monstro como o Jay Cutler ou outros QBs muito fortes. Por causa disso, nós provavelmente iremos ver a menor quantidade de passes longos em Denver da década. É óbvio que eramos um time de downfield com Plummer e Cutler, e que isso continuou com Orton e Tebow… ambos períodos no top-5 da liga em tentativas de mais de 20 jardas na temporada.

Peyton Manning, no entanto, nunca esteve nesse mesmo top-5 para passes profundos. Ele figura em 16º desde 2005 nesse quesito, e 21º em precisão de passes longos. É coerente pensar que essa tendência vai se manter. Não que ele não vá tentar passes longos, mas esse número vai cair bastante em comparação com as últimas duas temporadas.

 

Precisão

Certamente estamos esperando um upgrade gigantesco sobre o Tim Tebow em termos de precisão, mas devemos ter em mente que apesar de ser um QB de passes precisos, ele nunca foi o “senhor precisão” como Drew Brees ou Aaron Rodgers. Dito isso, podemos esperar ver uma precisão um pouco acima do que víamos com o Kyle Orton em 2009 e 2010. Eu sei que esse nome soa muito mal, mas durante o tempo que jogou em Denver o Orton foi bastante preciso em seus passes. Se descontarmos os drops, ele completou 69.3% dos passes tentados enquanto o Manning completou 73.1%.

Além de sabermos disso, também precisamos saber que o Peyton Manning também deve lançar mais interceptações que o Orton ou o Tebow, mas somente uma pequena quantidade a mais. Não pense nisso como um problema, porque ele também vai estar lançando mais touchdowns que os dois. No geral é um pequeno aumento nas interceptações para um grande aumento nos touchdowns.

 

Notas Rápidas

– Os times quase nunca vão dropar seus CBs e LBs em coverage. Tedy Bruschi disse:

O negócio é que a zone coverage não deveria ser usada nesse jogo. Peyton Manning é muito bom. Parece que ele sempre soube o que estávamos fazendo – cover 3, cover 2, não importa – e ele sempre encontrava o WR certo para lançar.

– Peyton Manning já disse que usa um pouco de psicologia durante a partida. Teoria de jogo (baseando sua decisão no que você acredita que os outros irão fazer) é uma grande parte do playcalling dele no huddle e na linha. Muitos ataques usam isso, alias essa é a idéia dos playactions em que a defesa vê você correndo muitas vezes e podem ser pegas desprevenidas quando você faz um playaction. No entanto se você chamar playactions várias vezes seguidas ela vai parar de funcionar.

– Também devemos notar que não adianta pensarmos nas rotas principais que o Manning utiliza, já que elas provavelmente vão ser ajustadas. Não dá para analisar as jogadas passadas e se basear nelas para prever o Peyton Manning, pois suas rotas são baseadas nos seus companheiros de time e nos ajustes, embora as formações sejam a mesma.

 

Conclusão

Eu sei que este não é o artigo mais aprofundado sobre o tema, eu só quis mantê-lo o mais simples possível para transmitir as minhas idéias. Agora se você tiver alguma idéia ou comentário eu farei o melhor para responder. Espero que tenha sido um post educativo a todos.

 

Gostou deste tipo de conteúdo? Então indico a série Aspectos do Jogo onde sempre trazemos posts como este.

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