Hoje o coração da torcida laranja e azul amanheceu apertado. Se foi cedo demais um ídolo dentro e fora de campo, com tamanho e velocidade como de poucos, sorriso fácil e uma gentileza que dava pra ser percebida mesmo há milhares de quilômetros de distância. DT, te amamos pra sempre.
Aqui vai um relato pessoal. Eu não sabia muito bem como começar a escrever isso aqui. Simplesmente comecei e não sei muito bem pra onde esse texto vai.
Na madrugada do dia 9 pro dia 10, com o Thursday Night Football ainda acontecendo (ironicamente com os Steelers em campo, de quem Demaryius Thomas foi antes um algoz), recebi uma mensagem.
Eu não estava vendo o jogo, resolvi ver um filme qualquer. Ao final, vi a mensagem e era algo inimaginável: falava sobre a morte do nosso DT. Em seguida, todas as notificações e confirmações e condolências e negações desesperadas de quem conhecia ele e também de quem, como eu, só o admirava pela pessoa que era, dentro e fora de campo.
Demaryius Thomas morreu cedo demais, com apenas 33 anos, meses depois de se aposentar assinando um contrato de 1 dia para terminar a carreira como começou: um Denver Bronco. Ele se foi, provavelmente após ser vítima de convulsões, que agora sabemos, tinham se tornado parte da sua vida depois de um acidente de carro.
É fácil ver quando uma pessoa é realmente querida por todos ao redor. E Demaryius Thomas era claramente isso. Amado por colegas de time, por técnicos, pela imprensa e por nós, fãs. Tanto os que tiveram a oportunidade de ver ele de pertinho, abraçar, apertar a mão, tirar uma foto… quando pelos que estavam longe demais pra isso.
Eu vou falar mais sobre o número 88 em campo mais abaixo, acho importante lembrar o legado dele como um Bronco. Mas primeiro, vou pensar no Demaryius Thomas ser humano, que tinha apenas 33 anos e faria aniversário no dia de Natal.
Ele teve uma infância difícil, e acho que ninguém melhor que o próprio Demaryius pra contar a própria história: em dezembro de 2015, ele publicou um texto com o título “For Mamma”, no The Player’s Tribune. A gente postou uma tradução do texto na época e recomendo que todo fã do DT, ou simplesmente quem quiser ler um relato humano do jogador. Leia aqui.
Resumindo, DT cresceu como um órfão, com o pai longe e a mãe e a avó presas desde que ele era apenas um menino.
O primeiro jogo que a mãe dele viu pessoalmente foi um mês depois da publicação do texto, na Rodada Divisional dos playoffs de 2015, novamente contra os Steelers. Isso me leva a pensar o quanto os duelos contra os Steelers marcaram a carreira e a vida de Demaryius Thomas.
Talvez por esse começo de vida difícil, ele tinha um carinho especial por crianças. As histórias dele interagindo com elas são inúmeras. Acima de tudo, ele acreditava que elas precisam se sentir amadas e fazia de tudo pra demonstrar esse carinho. Seja nas inúmeras participações em ações de caridade, ou em momentos simples, ele sempre tinha um sorriso pra oferecer aos pequenos.
Em campo, assim como as origens do time de Pittsburgh que ele tinha talento para bater, DT era feito de aço. Tudo o que o torcedor quer, além de ganhar, é ver os jogadores darem tudo de si. E ele certamente dava isso. Quantos relatos eu não ouvi sobre Demaryius no vestiário precisando de ajuda pra retirar o equipamento por causa das dores da partida…
Mas ele estava sempre sorrindo, fazendo a alegria dos fãs, abraçando crianças, ficando mais tempo no treino do que precisaria para ajudar jogadores jovens. Ele era simplesmente raro. Um jogador raro e uma pessoa rara.
Apesar da infância difícil, Demaryius Thomas superou a ausência da mãe e da avó pra se tornar uma figura que era e ainda deve ser modelo para outros jogadores. Ele foi atleta de 3 esportes na escola e se tornou um recruta de 3 estrelas, recebendo ofertas de Duke, Georgia e Georgia Tech, a última sendo sua escolha final.
A tenacidade dele em campo para bloquear veio desde cedo. Em Georgia Tech, quando ele estava no terceiro ano houve uma mudança de comissão técnica e DT acabou se vendo no meio de um ataque baseado na triple option, extremamente focado no jogo corrido. Apesar de ter considerado se transferir, ele permaneceu por lá.
Apesar de o ataque não favorecê-lo, DT mostrava desde cedo o que sempre foi: um campeão. Na época, ele falou “Às vezes eu penso nisso (em não receber muitos passes), mas na maior parte do tempo eu só quero vencer.”
No Draft, a discussão era: Demaryius Thomas ou Dez Bryant? Quem era o WR número 1 da classe de 2010?
Os Broncos não tiveram essa dúvida: depois de escolher Tim Tebow, optaram por DT como o primeiro WR a sair do board, na escolha 22.
A escolha se provou correta: Demaryius Thomas é e sempre será o que é conhecido como um “Pat Bowlen Bronco”: era leal à franquia e à torcida e sempre dava tudo de si para vencer.
Foram 9 temporadas como um Bronco, jogadas históricas, 2 visitas ao Super Bowl, 1 Lombardi conquistado, 5 Pro Bowls e inúmeros recordes da franquia. Ele nunca se encontrou com outras cores, era em laranja e azul que DT brilhava mais.
Todas as lembranças em campo, de todas as vitórias, da recepção no overtime para ganhar o jogo em que a magia voltou a Mile High, às recepções gigantescas, aos screens que viravam um caminhão de jardas, tudo isso vai ficar para sempre na minha memória e na de boa parte da nossa torcida.
Quem não viu Demaryius Thomas, faça um favor pra si mesmo: assista ele jogar. A gente reconhece quem tem o sangue laranja como a gente. E você, DT, com certeza tinha.
O jogador era especial, mas a pessoa era ainda mais. Talvez isso é que torne esse momento tão difícil. Ver tantas declarações de ex-colegas de time, torcedores e da imprensa que acompanhava Demaryius Thomas diariamente buscar mudar vidas.
88 vai ficar pra sempre. Saiba disso onde estiver, DT!