Muito se tem comentado nos últimos dias em como o Broncos “selecionou seus jogadores em um momento mais cedo do que deveria”. Apesar desse motivo para torcer um pouco o nariz para como foi feito o nosso último Draft, muitos gostaram dos jogadores em si que foram escolhidos. Bom, o legendário Head Coach do San Fransisco 49ers Bill Walsh tinha uma perspectiva única sobres os Drafts da NFL.
Neste artigo iremos verificar como eram suas idéias a respeito desses Drafts e como podemos olhar nossos drafts (incluindo este de 2012) sob a ótica dele para formar uma opinião mais fundamentada e avaliar como nós nos saímos este ano.
Breve resumo da história profissional de Bill Walsh
Bill Walsh começou sua carreira como treinador profissional em 1966. Em 1968, quando estava nos Bengals, desenvolvou o que hoje conhecemos por “West Coast Offense” com o excelente treinador Paul Brown. Depois de anos de sucesso por onde passou nesse período (incluindo dois anos vitóriosos como Head Coach de Stanford no college), ele chegou aos 49ers em 1979 e logo em seu primeiro ano draftou o QB Joe Montana na 3ª rodada daquele Draft.
Durante sua carreira ganhou 3 Super Bowls (1981, 1984 e 1988) e foi apelidado de “O Gênio” por seus feitos. Ele também foi o responsável por draftar Ronnie Lott, Charles Haley e Jerry Rice. Além de ter feito uma troca em 1987 que lhe permitiu adquirir o QB Steve Young. Bill Wash morreu de leucemia em 30 de julho de 2007 e estará para sempre marcado no Hall Of Fame.
1. Descrevendo o jogador pela rodada que deve ser escolhido
Bill Walsh odiava escutar um scout dizer para ele que um jogador era, por exemplo, não um bom 2º rounder, mas um ótimo 3º rounder. Ele sempre dizia que o único momento que as pessoas falavam sobre rounds eram nas preparações e no dia do draft. Nunca durante a carreira de nenhum jogador diriam que aquele jogador foi ou não selecionado no round correto. No dia depois do draft, cada jogador é avaliado por sua performance como jogador e não pelo round que foi escolhido. O Walsh só se importava sobre o que um jogador poderia fazer pelo time dele. Ele pensava que essa conversa sobre round era o jeito errado de se medir as habilidades de alguém. Desse modo o draft deixaria de ser avaliação de talentos e se tornaria palpite de rounds.
Em Cleveland, havia um scout que raramente falava muita coisa antes do draft. Ao ser perguntado alguma coisa, ele era vago e não gostava de se comprometer com alguma opinião, como se fosse envergonhado ou tímido. No entanto, assim que o draft acabava, ele virava um novo homem. Ele se sentava na sala do draft, revisava o pick de cada time e avaliava seu trabalho baseado nas suas próprias previsões sobre os rounds.
Walsh discordava disso e sempre dizia a todos: não importa em que momento fizemos um pick, só o que importa é como o jogador vai atuar. Se o QB Brock Osweiler – que foi escolhido na segunda rodada pelo Broncos – jogar bem, ninguém vai se importar em que momento ele foi selecionado. Assim como se ele não se desenvolver e jogar mal, ele vai ser um pick perdido independente de onde ele ocorreu no draft.
2. “Este foi um mau dia de draft”
Esta frase levava Walsh à loucura, pois ele sentia que era uma desculpa absurda dos scouts. Todo ano antes dos drafts, costuma-se ouvir por toda parte “como a classe deste ano é ruim”. O Walsh costumava lembrar a todos na sala de draft que isso nunca importava, por que tudo o que ele precisava era uma classe profunda o suficiente para ele adquirir de 9 a 12 jogadores para o time dele. Satisfazer todos os times não era sua preocupação. Tudo com o que ele se importava era achar talentos e selecioná-los.
3. “Nós devíamos trocar para baixo. Não tem nenhum jogador que vale ser escolhido neste spot que estamos”
Apesar de adorar se mover para cima ou para baixo, Walsh sentia que os scouts sempre queriam trocar para baixo para evitar colocar sua reputação em risco. Ele não gostava dos scouts que tinham medo de fazer uma decisão difícil já que ele tinha que fazer esse tipo de decisão todo o tempo. Ele perguntava aos scouts “O que você quer quer a gente faça: quer que a gente desista desse pick?”.
Antigamente, quando o custo de um pick de draft era mais caro, se mover para baixo era uma boa opção. Mas com o novo CBA (Collective Bargaining Agreement) assinado no fim da greve do ano passado, o dinheiro pago aos novatos foi reduzido substancialmente. Então não é mais financeiramente perigoso fazer um pick numa posição alta.
Contudo, mesmo naquele tempo, Walsh entendia que sempre existia algum jogador que valia a escolha no seu momento, porque sempre três anos depois de qualquer draft as pessoas iriam olhar para trás e ver os nomes de grandes jogadores da liga que foi pulado por alguns times. De novo ele privilegiava o talento, e não o momento do pick.
4. Cuidado com jogadores oriundos de programas menores sendo injustamente avaliados como piores do que são, especialmente aqueles cujo treinador tenha sido demitido
Na avaliação do Walsh, os jogadores de programas que demitiram seus técnicos pagam um preço caro na avaliação para o draft. Os técnicos raramente admitem o real motivo de sua demissão (um mau trabalho feito por eles), mas costumam colocar a culpa nos jogadores e dizer que eles eram ruins. Isso afeta muito a cultura de que scouts podem ou não podem visitar determinada universidade naquele tal ano. Walsh insistia para que todos os prospects do college nessa situação fossem examinados de perto.
5. “Nunca escolha um one-year-wonder e olhe para frente; escolha um one-year-wonder e olhe para trás!”
Depois de se decepcionar com um one-year-wonder (jogador que tem somente um ano com produção espetacular em campo) no draft de 1987 – o RB Terrence Flager de Clemson – Bill Walsh passou a ficar cético quanto aos jogadores que tinham somente o último ano de produção para serem avaliados. Se um bom técnico só conseguiu que aquele determinado jogador produzisse bastante no último ano dele no college, como esse jogador poderia ser consistente na NFL? A chance disso acontecer é muito menor nesse caso e ele evitava selecionar jogadores assim.
6. “No primeiro ano nós iremos ensinar nosso sistema aos jogadores, no segundo ano nós vamos desenvolver as habilidades deles de acordo com o nosso sistema”
Walsh acreditava que sobrecarregar um novato com o playbook inteiro era um grande erro. Ele queria ter um papel definido para todos os jogadores em seu primeiro ano, para depois desenvolver as habilidades do jogador dentro do sistema. Sua maior preocupação era ter certeza que o jogador poderia jogar rápido e queria que eles soubesse reagir rápido, ao invés de pensar primeiro.
Com a greve eliminando os minicamps e OTAs da última temporada, os times foram forçados a cortar essa grande quantidade de informação aos novatos. Ainda assim, muitos novatos de muitos times tiveram contribuições significantivas em campo no ano passado, dando uma amostra da veracidade da teoria do Walsh.
Com tanto material para se pensar vindo de um técnico como Bill Walsh, o que podemos tirar de lição? Isso muda como você vê o nosso Draft 2012? Por quê?
GO BRONCOS!